2 de abr. de 2013

Edição 10 - COMO LUTERANOS INTERPRETAM A BÍBLIA


Editorial: O Boletim Virtual  Luteranos em Movimento é organizado por um grupo de ministros da IECLB e tem por objetivo a reflexão e a Formação Cristã Continuada para dentro da igreja de Jesus.
A edição é quinzenal e pode ser usado tanto para a reflexão pessoal como em grupos de estudo.
É livre para distribuição.

Edição 10
27 de março de 2013

COMO LUTERANOS INTERPRETAM A BÍBLIA

          A cultura pós-moderna que relativiza a verdade e a moral também relativiza a leitura e interpretação da Bíblia. Assim, pessoas diferentes fazem interpretações contraditórias usando o mesmo texto bíblico.Quando não se tem princípios claros que norteiam a interpretação bíblica, ela estará refém dos pressupostos do leitor. Os textos deixam de dizer o que dizem e passam a dizer o que queremos que digam. Ou seja, a interpretação é condicionada ao leitor.

Na linguagem teológica chamamos de hermenêutica essa tarefa de interpretação bíblica. Então, que hermenêutica usamos para a leitura da Bíblia? Qual seria mais confiável para não deixarmos a leitura e interpretação bíblica a mercê de nossos interesses? Como luteranos, devemos voltar a Lutero. Sua proposta de interpretação da Bíblia poderia ser esta ferramenta mais segura para não sujeitarmos a Bíblia aos interesses de cada geração.

Lutero afirmou enfaticamente que ler a Bíblia distinguindo lei e evangelho era a forma correta de interpretar as Escrituras. Como funciona isso? A lei é aquilo que mostra o nosso pecado, que aponta nossa perdição, nossa falência total diante de Deus. Por isso, a lei mata e condena. Contudo, ela é importantíssima, pois mostra a toda a pessoa a necessidade radical que possui diante de Deus. Nesse momento, entra o evangelho. Ele é a boa notícia de que Deus proveu perdão e salvação por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Embora condenável, o ser humano é amado por Deus, e este lhe proveu a quitação de toda culpa e pleno acolhimento em sua presença santa, antes inacessível. A tomada de consciência da condição de perdido diante de Deus e, respectivamente, do perdão imerecido, chamamos arrependimento. Assim, a lei conduz o homem a Cristo ao mostrar sua condição e sua necessidade. A graça de Deus o acolhe, perdoa, santifica, justifica, redime e, pela presença do Espírito Santo, oferece condições de viver uma nova vida.

Quando pregamos apenas a lei ou o juízo de Deus, caímos no legalismo. O legalismo mostra o pecado, mas não diz como sair dele. Ele coloca sobre os ombros das pessoas um peso que elas não podem carregar. Se pudessem, Cristo não precisaria ter morrido na cruz. Na igreja, gera dois tipos de pessoas: o primeiro é o hipócrita, aquele que não consegue viver a altura do padrão de Deus, mas finge que vive. É o tipo de pessoa que julga nos outros o que não consegue resolver em si mesmo. A espiritualidade vira uma questão estética, de aparência, dividindo o que se é no ambiente eclesiástico o que se é na vida privada. Gera pessoas endurecidas, julgadoras e arrogantes. O segundo grupo são daquelas pessoas sinceras, que percebem não poder atingir o padrão de Deus por meio de seus próprios esforços, e que saem da igreja por não suportar a pressão sobre si nem a hipocrisia dos outros. Acabam terminando feridas, frustradas e incapazes de serem “verdadeiros cristãos”.

Quando oferecemos o evangelho sem a lei, caímos no fosso do liberalismo. O teólogo Dietrich Bonhoeffer chamou isso de “graça barata”. Nesse contexto, não é mais o pecador que é justificado, mas o seu pecado. Não é a pessoa que é acolhida, mas o seu comportamento reprovável. O perdão vira um direito, não mais um privilégio. O sangue de Jesus é pisado e o Espírito da graça, ultrajado. É justificação da irreverência e do cinismo. É a forma mais perversa de maquiar o mal.
        
Assim, para não estarmos sujeitos aos ventos da contemporaneidade, somos convidados a limpar nossos óculos das interpretações próprias e buscar uma forma segura, e por que não dizer, mais luterana, de estudar um texto bíblico e dele tirar conclusões e aplicações.
P. Daniel Schorn – Orleans - SC


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