16 de abr. de 2014

Edição 27: Chamados para supervisionar?

Deus chama todos os discípulos para trabalhar em seu Reino. Pedro refere-se a isto, quando ele apela aos “mais velhos” na fé para “pastorearem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados” (1 Pe 5.1-3).

O raciocínio do apóstolo é simples: à volta de alguém mais velho na fé sempre deveria haver quem está começando a caminhar com Jesus. Por isto recomenda “olhar” pelos irmãos, como no semi-árido da Palestina um pastor atenta para cada uma de suas ovelhas ou como pais amorosos olham por seus filhos pequenos. Não se pode fazer isto “por obrigação”, mas, sim, só “de livre vontade, como Deus quer”. Nem, “por ganância, mas com o desejo de servir”. Tal cuidado também não se exerce “como dominador”, mas
apenas “como exemplo”.

Nestas palavras Pedro passa adiante a tarefa que Jesus lhe havia dado (Jo 21). Ele menciona também quem pode exercê-la: todo aquele que for “testemunha dos sofrimentos de Cristo” e tiver certeza de “participar da glória a ser revelada”.

No entanto, na medida em que as primeiras igrejas cresciam, tornou-se necessário quem olhasse pela comunidade toda. Parece que em Filipos percebeu-se logo esta necessidade. Pois, poucos tempo depois de plantada, Paulo escreve aos filipenses: “Paulo e Timóteo, escravos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os supervisores e servidores” (Fp 1.1). Supervisor é a tradução literal da palavra grega 'episcopos' que originou nossa palavra 'bispo'. Anos mais tarde, ao despedir-se da liderança da igreja de Éfeso, Paulo também menciona esta função: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como supervisores, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).

Por fim, Paulo descreve detalhadamente na carta a Timóteo as qualidades que se deve esperar desta liderança: “Se alguém deseja ser supervisor, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o supervisor seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade” (1Tm 3.1-3).

O padrão desta recomendação é deveras elevado. A atitude que recomenda podemos observar no próprio Paulo: a disposição de lutar consigo mesmo (“…esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado“ - 1Co 9.27) e para sofrer pelo evangelho (Ao convocá-lo o Senhor dissera: “Mostrarei a ele o quanto deve sofrer pelo meu nome” - At 9.16; cf. 2Co 11). Neste perspectiva devemos entender o incentivo apostólico: “Se alguém deseja ser supervisor, deseja uma nobre função” (1Tm 3,1).


  • A história da ovelha perdida nos ensina algo sobre pastoreio na igreja?
  • Quem olha pelo todo da sua comunidade?
  • Como podemos tornar-nos uma igreja em que se pastoreia cada ovelha?
  • Quem se dispõe à 'nobre função' de olhar por toda congregação?


P. Martin Weingaertner 
weingaertner.martin@gmail.com 
Faculdade de Teologia Evangélica de Curitiba