Edição 9
13 de março de
2013
Pecado,
Confissão de Pecado, Penitência, Perdão e Absolvição
Introdução – A realidade do mal e do pecado
faz parte da condição humana. Em sua limitação para praticar o bem a humanidade
produz muita dor e sofrimento e o sentimento de culpa instala-se implacavelmente
nas consciências a ponto de produzir grande tribulação e angústia. Como o ser
humano pecador pode lidar com o pecado e com a culpa que ele provoca? Como ser
redimido? Estas são questões muito importantes sobre a existência humana.
Pecado e Perdão no AT – No Antigo Testamento, a
problemática do mal e do pecado é tratada no contexto da pureza legal que, por
sua vez, tem como pano de fundo a Aliança (Levítico 4-6). A quebra da Aliança
é a causa do mal e do sofrimento. Nisto residia a idéia de pecado: “quebrar o
acordo com Deus”. Para superar o mal e obter o perdão, o fiel devia demonstrar
fidelidade a Deus através do sacrifício. Havia no sacrifício
vetero-testamentário a idéia de confiança em Deus que, por sua graça, estava
disposto a perdoar mediante um sacrifício de sangue.
Não demorou para
que a tendência do legalismo e do ritualismo penetrasse fortemente na
consciência do povo de Israel. Os ritos sacrificiais eram cumpridos como se
tivessem um valor em si mesmos, esquecendo-se o seu fundamento, a Aliança
firmada na graça de Deus que renovava todas as coisas. Para resgatar o sentido
original do perdão dos pecados surgem novos discursos e práticas: a) a
pregação profética que lembra a fidelidade à Aliança (Os 1-3; Am
9.11-15; Mq 7.8-20; Jr 31; Is 26-27); b) a confissão de pecados (Jr.
2-5; Ne 9.2s; Sl 51, 52 e 53; c) os ritos de arrependimento e
conversão, como o uso de pano de saco e cinzas, rasgar as vestes, jejuns
(Jó 2.8, 30.19, 42,6; Is 58,5; 2 Sm 3.31, 1 Rs 21,12); d) a exclusão
da sinagoga como gesto extremo para quem não quer mais ser fiel à Aliança
(João 9.22).
Pecado e Perdão no NT – A consciência de pecado e culpa
está bastante permeada no Novo Testamento, bem como o chamado ao
arrependimento. A fidelidade à Aliança, porém, agora é vista na
perspectiva da chegada do reino de Deus (Mc 1.4 e 15; At 2.38, 3.19.
Arrependimento e conversão passam a ser condição para entrar no reino de Deus.
Eles aparecem a partir do estímulo reconfortante da certeza da satisfação da
justiça de Deus mediante o sacrifício vicário de Jesus na cruz do Gólgota, como
o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
Em seu ministério
Jesus curava os doentes e perdoava pecados. Era um sinal claro de resgate da
pessoa perdida e marginalizada ao convívio de Deus e da comunidade que o havia
excluído e apontavam sempre para a proximidade do Reino (Mc 1-2; Lc 19.1-10; Jo
8.3-11).
Jesus desejou que
sua atitude fosse imitada pelos seus discípulos e para isso transmitiu a eles o
poder de perdoar os pecados (Jo 20.21-23).
Pecado e Perdão na Igreja – As primeiras comunidades logo
perceberam que o mal e o pecado continuam presentes nas pessoas provocando
divisões, disputas e brigas (1 Co 1.10-13; 6.1-8). Por isso a comunidade era
constantemente chamada à conversão e santificação e a confiar na misericórdia
de Deus (1 Jo 2.1-2). A confissão de pecados foi empregada ao longo da história
de diversas formas, passando desde a confissão pública, à confissão auricular
(particular a um confessor) e a prática da confissão individual e secreta. Esta
última assumiu a forma mais comum nos dias atuais, mas é inegável a importância
da confissão pública de pecados e da prática de cada cristão ter o seu
confessor para, dele, ouvir em lugar de Cristo as palavras de absolvição de
pecado (Mt 16.19; Jo 20.23).
Vida Cristã: da prisão do diabo
à liberdade de Cristo
– A nossa
caminhada de fé estende-se entre a prisão da culpa e o castelo do perdão.
Estávamos aprisionados por Satanás, mas Deus já abalou pela força de sua graça
as muralhas da prisão. Saídos desta prisão diabólica andamos por fé em direção
ao castelo de Deus, onde há liberdade plena e definitiva. Assim como Faraó
perseguiu o povo hebreu no deserto Satã envia seus guardas para nos escravizar
novamente. Dentro de nós, o velho Adão e a velha Eva são seus aliados valiosos.
Porém Deus nos envia um poderoso protetor, que é o poder do perdão concedido
por meio do sacrifício de Jesus Cristo.
Confissão e Penitência – Em Mateus 4.17 Jesus diz: “Arrependei-vos
porque está próximo o reino dos céus”. Isto é o mesmo que ser penitente.
Lutero iniciou as 95 teses ensinando que “ao dizer ‘fazei penitência’ nosso
Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência
(arrependimento)”. Penitência não são apenas os momentos em que se pratica
o ato penitente, mas é também toda a vida do cristão: arrependimento do pecado
por amor a Deus e receber dele o seu perdão. O “coração” da penitência é aquilo
que Deus faz (concede perdão) e não o que o penitente realiza. O que está em jogo
aqui é a certeza do perdão e isto não é possível alcançar com as nossas obras
reparadoras, mas apenas com a graça de Deus.
Confissão de Pecados – A confissão de pecados foi
empregada ao longo da história de diversas formas, passando desde a confissão
pública, à confissão auricular (particular a um confessor) e a prática da
confissão individual e secreta. Esta última assumiu a forma mais comum nos dias
atuais, mas é inegável a importância da confissão pública de pecados e da
prática de cada cristão ter o seu confessor para, dele ouvir, em lugar de
Cristo, as palavras de absolvição de pecado (Jo 20.23).
Perdão: libertação para o serviço ao próximo – Segundo Lutero, “Deus não
quer perdoar o pecado de ninguém, a não ser que perdoemos também ao nosso
próximo”. O perdão de Deus liberta-nos da fixação de nós mesmos e abre
nossos corações para o próximo e suas necessidades.
P. Edson R. Scherdien
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