6 de nov. de 2014

Porque não comemoramos o dia das bruxas

Edição especial 03Os quatro pilares da reforma

No dia 31 de outubro comemoramos os 497 da Reforma Protestante. Logo chegarão as celebrações dos 500 anos. Inegavelmente, a Reforma foi um dos grandes acontecimentos na cultura ocidental. Sua contribuição para a teologia, política, economia e educação mudou profundamente o pensamento de milhões de pessoas. Lutero nunca imaginou que o ato de pregar as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittemberg, em1517, seria a mola propulsora de grandes e profundas mudanças no curso da história.

Podemos resumir a Reforma iniciada por Lutero em quatro pilares que expressam os fundamentos teológicos que sustentam seu pensamento e nos ajudam na vivência evangélica e bíblica:

1) Solus Christus – Somente Cristo: Como herdeiros da Reforma, fundamentamos a nossa espiritualidade e teologia na centralidade da pessoa de Cristo. Confessamos que somente Cristo salva, somente Cristo perdoa, somente Cristo é o mediador entre Deus e os seres humanos. Jesus Cristo não é "mais um" no panteão religioso. Ele é único e a sua morte na cruz e sua ressurreição são suficientes para completar a nossa redenção. Lutero não inventou essa centralidade de Cristo, pelo contrário, ele a resgatou das Sagradas Escrituras que declaram: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4.12).
2) Sola Gratia – Somente a Graça: Cristo é o único Senhor e Salvador e as Escrituras atestam essa verdade. Da mesma forma, a Bíblia afiança que não podemos alcançar a salvação pelas nossas obras meritórias. Ou seja, não podemos conquistar o favor de Deus por praticarmos coisas boas e sermos honestos, íntegros e participamos da igreja. É Deus quem vem ao nosso encontro. Ele nos amou primeiro e tomou iniciativa para nos alcançar. Somos libertos da idéia de que nós somos os agentes da salvação e que podemos merecer o amor de Deus pelas nossas atitudes. Deus ama a todos indistintamente. Quem se deixa alcançar por este amor pode viver em plena liberdade para amar e perdoar. Numa sociedade em que tudo é comprado, conquistado pelo esforço e mérito próprio, a mensagem de um Deus que nos aceita e nos ama graciosamente é loucura quase incompreensível. Em Efésios 2.8-9 podemos ler: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
3) Sola Fide – Somente a Fé: Esta nova realidade gerada por sermos salvos somente por Cristo e não pelo que fazemos de bom só é experimentada pela fé. A fé não é um sentimento vago, mas a certeza de que aquilo que os nossos olhos não enxergam é real e verdadeiro (Hebreus 11.1). A fé acolhe a graça de Deus e por meio dela vivemos em um relacionamento vivo com Deus. Lutero nos lembra que pela fé vivemos uma dimensão espiritual que não pode ser gerada pelos nossos esforços. Ela é um dom de Deus. O apóstolo Paulo afirma: Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé (Romanos 1.16-17.).
4) Sola Scriptura – Somente a Escritura: Segundo Lutero, o maior tesouro da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo revelado nas Escrituras. Nenhuma tradição, concílio ou qualquer convenção humana pode estar acima das Escrituras ou ao lado dela. A palavra de Deus tem primazia e ela é fonte de todo crescimento espiritual. Ela revela a vontade de Deus e nada pode ser ensinado na Igreja que contrarie essa vontade. As Sagradas Escrituras têm autoridade sobre qualquer assunto de fé e obediência. Com a ajuda do Espírito Santo e tendo como chave hermenêutica a pessoa de Cristo, a herança da Reforma nos compromete a sermos Igreja da Palavra.

Esses quatro fundamentos continuam atuais e em grande medida tornam-se crivos para não adotarmos qualquer ensinamento que contrarie o verdadeiro e puro Evangelho de Jesus Cristo. Lembre-se: ser cristão luterano não é ser um seguidor de Lutero, mas um discípulo de Cristo que tem Nele seu único Senhor e Salvador, que entendeu que somos o que somos pela graça divina, que vive pela fé e se alimenta diariamente da Palavra de Deus.

P. Marcos Antonio da Silva, Curitiba

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