20 de nov. de 2014

Ser sal e luz é o caminho na política

Você já foi ou pensa em ser candidato a algum cargo eletivo? É. Isto mesmo. Ser candidato a vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou presidente? Você já pensou nisto? Estás louco!... Você pode estar pensando. Isto não é coisa para gente séria!

Pois é, infelizmente este é o conceito de muita gente. De que política não é coisa para gente séria. O que esperar dos nossos governantes se é este, muitas vezes, o conceito que temos?
 Nas últimas eleições me chamaram a atenção dois fatos: a apatia e o desrespeito dos eleitores.

A apatia no sentido de não querer participar, não querer conhecer, não querer entender, não querer diferenciar. Fico me perguntando: como vou escolher consistentemente os meus representantes nos poderes legislativo e executivo, nas esferas nacional e estadual, sem me envolver com o processo?

Parece-me que muitos perderam a consciência de que no Brasil é o povo que elege os seus governantes. A Constituição afirma, em seu capítulo primeiro, que “todo o poder emana do povo”. Estamos exercendo esta oportunidade?

A apatia foi tanta que não existia muito clima para falar de eleição e pedir voto. Reuniões foram muito esvaziadas; comícios foram raros. Entendo... O conceito de muitos foi que os políticos “são tudo igual”, “tudo farinha do mesmo saco”, “são tudo corrupto”, “estou desacreditado da política”... e assim por diante.

Entendo... mas pergunto: Estes sentimentos ajudam a termos políticos dignos da nossa representação? O desrespeito no sentido de não conseguir dialogar com o diferente e com as diferenças também apareceu muito forte. Ele ficou bem evidenciado no segundo turno da eleição presidencial e no pós-eleição. Chegou-se a expor sentimentos de preconceito e de ódio surpreendentes, especialmente nas redes sociais.

Não preciso relembrar o que lemos, vimos e ouvimos durante o processo. Quero reforçar, aqui, que não falo do comportamento dos candidatos, apesar deles também terem sua parcela de responsabilidade sobre o processo. Estou falando de nós, eleitores, cidadãos comuns, de onde emergem os políticos e governantes.

Nós, cristãos luteranos, acreditamos que “somos sal da terra e luz do mundo”. Sal para dar sabor (ser um tempero) ou para matar? Luz para mostrar o caminho ou para cegar? Acredito que seja para dar sabor e para mostrar o caminho.

Para sermos sal e luz na sociedade precisamos nos envolver na política. Posicionando-nos consistentemente frente à complexidade social e política é um bom começo. Na atualidade, especialmente com o advindo das redes sociais, com uma quantidade enorme de informações a ser processadas, muitas vezes ficamos na superficialidade.

Ser sal e luz na dose certa é o desafio. Envolvendo-nos, de forma consistente e respeitosa, possibilitaremos que pessoas de bem estejam dispostas a exercer cargos públicos. Semear palavras de tolerância, amar ao próximo, não julgando suas práticas e escolhas (pois cabe somente a Deus julgar), mas acolhendo-o em nossas comunidades e mostrando o caminho do Evangelho.

Apatia e desrespeito com a política e os políticos fortalecerão exatamente aquilo que não queremos: o político interesseiro e corrupto.
Quero ver pessoas de bem se envolvendo na política, inclusive sendo candidatos vitoriosos, exercendo os cargos eletivos. Se quisermos uma sociedade mais justa e solidária precisamos começar por cada um de nós.
Glauco Lindner
Lontras - SC

10 de nov. de 2014

Nossa Cidadania

Nos últimos meses o nosso país viveu mais um processo eleitoral. Como cidadãos brasileiros, fomos chamados a escolher nossos representantes políticos. O debate sobre quem seriam os melhores candidatos tomou conta das conversas, também nas redes sociais. Agora, já sabemos quem irá governar o nosso estado e país pelos próximos quatro anos.

Porém, nosso compromisso não para por aí. Independente se os candidatos que apoiamos foram eleitos ou não, como cristãos somos desafiados por Deus a buscar o bem do lugar onde vivemos: Trabalhem para o bem da cidade para onde eu os mandei... Orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também estarão. (Jeremias 29.7 – NTLH).

Encontramos dois desafios práticos nesta palavra. O primeiro é trabalhar para o bem da cidade. Através de Jeremias Deus detalhou de maneira concreta como isso deveria ser feito: significa ter um estilo de vida honesto, justo e digno, valorizar e zelar pela família; entender o nosso trabalho não apenas como um meio de ganhar dinheiro, mas também de servir a sociedade. Significa também envolver-se em iniciativas e trabalhos sociais que busquem melhorar a qualidade de vida da população. O engajamento político também pode ser útil e importante de contribuir para o bem do meio onde vivemos. Porém, devemos empenhar-nos orientados pelos ensinos bíblicos. Não se pode entender a participação política como meio para alcançar benefícios pessoais ou de um grupo específico, nem aderir à cultura que espera que tudo vá de mal a pior, se o meu candidato não ganhar as eleições. Não podemos concordar com esse pensamento, pois ele prejudica o povo todo. 

Outro aspecto é a oração em favor da cidade. O apóstolo Paulo ensina: Orem pelos reis e por todos os outros que têm autoridade, para que possamos viver uma vida calma e pacífica, com dedicação a Deus e respeito aos outros. Isso é bom, e Deus, o nosso Salvador, gosta disso. (1Timóteo 2.1-3 NVI). Nossa tarefa é, pois, orar pelos governantes para que sejam justos e honestos e governem para o bem de todos, para que não se deixam dominar pelo poder e ganância e tornem-se negligentes para com suas responsabilidades. A população sofre quando as autoridades não cumprem a sua tarefa e nós, cristãos, também não cumprimos a nossa. Achamos mais fácil confiar numa pessoa que se apresente como salvadora da pátria do que no poder da oração. 

Quando ambos, cristãos e governantes, cumprem o seu papel na sociedade o resultado pode ser diferente. Paulo nos chama a orar para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade, pois essa é a vontade de Deus. 

Joelson Erbert Martins – São José - SC 
martaejoelson@oi.com.br

6 de nov. de 2014

Porque não comemoramos o dia das bruxas

Edição especial 03Os quatro pilares da reforma

No dia 31 de outubro comemoramos os 497 da Reforma Protestante. Logo chegarão as celebrações dos 500 anos. Inegavelmente, a Reforma foi um dos grandes acontecimentos na cultura ocidental. Sua contribuição para a teologia, política, economia e educação mudou profundamente o pensamento de milhões de pessoas. Lutero nunca imaginou que o ato de pregar as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittemberg, em1517, seria a mola propulsora de grandes e profundas mudanças no curso da história.

Podemos resumir a Reforma iniciada por Lutero em quatro pilares que expressam os fundamentos teológicos que sustentam seu pensamento e nos ajudam na vivência evangélica e bíblica:

1) Solus Christus – Somente Cristo: Como herdeiros da Reforma, fundamentamos a nossa espiritualidade e teologia na centralidade da pessoa de Cristo. Confessamos que somente Cristo salva, somente Cristo perdoa, somente Cristo é o mediador entre Deus e os seres humanos. Jesus Cristo não é "mais um" no panteão religioso. Ele é único e a sua morte na cruz e sua ressurreição são suficientes para completar a nossa redenção. Lutero não inventou essa centralidade de Cristo, pelo contrário, ele a resgatou das Sagradas Escrituras que declaram: E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4.12).
2) Sola Gratia – Somente a Graça: Cristo é o único Senhor e Salvador e as Escrituras atestam essa verdade. Da mesma forma, a Bíblia afiança que não podemos alcançar a salvação pelas nossas obras meritórias. Ou seja, não podemos conquistar o favor de Deus por praticarmos coisas boas e sermos honestos, íntegros e participamos da igreja. É Deus quem vem ao nosso encontro. Ele nos amou primeiro e tomou iniciativa para nos alcançar. Somos libertos da idéia de que nós somos os agentes da salvação e que podemos merecer o amor de Deus pelas nossas atitudes. Deus ama a todos indistintamente. Quem se deixa alcançar por este amor pode viver em plena liberdade para amar e perdoar. Numa sociedade em que tudo é comprado, conquistado pelo esforço e mérito próprio, a mensagem de um Deus que nos aceita e nos ama graciosamente é loucura quase incompreensível. Em Efésios 2.8-9 podemos ler: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
3) Sola Fide – Somente a Fé: Esta nova realidade gerada por sermos salvos somente por Cristo e não pelo que fazemos de bom só é experimentada pela fé. A fé não é um sentimento vago, mas a certeza de que aquilo que os nossos olhos não enxergam é real e verdadeiro (Hebreus 11.1). A fé acolhe a graça de Deus e por meio dela vivemos em um relacionamento vivo com Deus. Lutero nos lembra que pela fé vivemos uma dimensão espiritual que não pode ser gerada pelos nossos esforços. Ela é um dom de Deus. O apóstolo Paulo afirma: Porque não me envergonho do Evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: O justo viverá da fé (Romanos 1.16-17.).
4) Sola Scriptura – Somente a Escritura: Segundo Lutero, o maior tesouro da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo revelado nas Escrituras. Nenhuma tradição, concílio ou qualquer convenção humana pode estar acima das Escrituras ou ao lado dela. A palavra de Deus tem primazia e ela é fonte de todo crescimento espiritual. Ela revela a vontade de Deus e nada pode ser ensinado na Igreja que contrarie essa vontade. As Sagradas Escrituras têm autoridade sobre qualquer assunto de fé e obediência. Com a ajuda do Espírito Santo e tendo como chave hermenêutica a pessoa de Cristo, a herança da Reforma nos compromete a sermos Igreja da Palavra.

Esses quatro fundamentos continuam atuais e em grande medida tornam-se crivos para não adotarmos qualquer ensinamento que contrarie o verdadeiro e puro Evangelho de Jesus Cristo. Lembre-se: ser cristão luterano não é ser um seguidor de Lutero, mas um discípulo de Cristo que tem Nele seu único Senhor e Salvador, que entendeu que somos o que somos pela graça divina, que vive pela fé e se alimenta diariamente da Palavra de Deus.

P. Marcos Antonio da Silva, Curitiba