3 de set. de 2013

Edição 21 - Não há hierarquia na igreja de Cristo - Confissão de Barmen: Artigo 4

03 de setembro de 2013

Não há hierarquia na igreja de Cristo
O quarto artigo da Confissão de Barmen

“Jesus chamou seus discípulos e lhes disse: Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo”. Mateus 20.25-26
Os diversos cargos na igreja não estabelecem o domínio de um sobre os outros, mas servem ao exercício do serviço ordenado a toda a comunidade.
Condenamos a falsa doutrina de que na igreja à margem deste serviço, pudessem existir ou serem impostos líderes investidos do direito de dominá-la.
O artigo 4º da Confissão de Barmen aponta para um dos ensinos principais do Novo Testamento e que se constituiu como um dos pilares da reforma luterana, a saber, o sacerdócio geral de todos os crentes. Voltando à Bíblia, Lutero questionou a divisão entre clero e leigos. Na Idade Média desenvolveu-se a idéia de que os sacerdotes, dotados de dignidade e direitos especiais, se distinguem dos demais cristãos. Assim, aos poucos, eles adquiriram poder sobre a vida dos demais cristãos estabelecendo uma hierarquia. Os 'leigos' tornaram-se sempre mais dependentes da ministração dos sacerdotes para receberem a graça de Deus e, em última análise, a própria salvação. Tanto a pregação do Evangelho, quanto a administração dos sacramentos e o governo da igreja passaram a ser direito exclusivo da classe sacerdotal.
Em contraposição com esta compreensão hierárquica milenar que dominava a igreja de Cristo, Lutero entendeu que os ministros não são uma classe privilegiada em relação aos demais membros do Corpo de Cristo.  Todo cristão é um sacerdote (1 Pedro 2.9 e Apocalipse 1.6),  o que lhe confere a mesma dignidade. 
O resgate dessa verdade bíblica por parte do reformador produziu uma “verdadeira revolução” na igreja de Cristo. Os ofícios sacerdotais de anunciar a palavra e de interceder diante de Deus passaram a ser de direito comum de todos os cristãos, e não a prerrogativa especial de uma casta seleta dos ordenados.  O rito da ordenação não promove ninguém a um patamar superior de cristianismo. Ele não habilita a exercer poder sobre o povo de Deus, mas comissiona um irmão mediante a oração, a leitura das Escrituras e a imposição de mãos, para servir à congregação e não a si mesmo. Por isso, quem é eleito para uma função de direção seja numa comunidade local, seja a nível regional ou nacional da igreja, precisa entender que foi chamado para servir. Este princípio do sacerdócio de todos os crentes libertou os seguidores de Jesus do temor e da dependência do clero.
Com isso, tanto os ministros ordenados como os presbíteros eleitos estão desautorizados a exercerem suas funções como dominadores ou chefes do rebanho de Deus (1 Pedro 5.1-3). Exercer seu ministério deste modo representa um retorno ao sacerdotalismo medieval contra o qual Lutero e os demais reformadores se insurgiram. Pois o cabeça da igreja é Cristo, ninguém mais.  Quem, portanto, se apropria da liderança, contradiz o ensino das Escrituras e ofusca o senhorio de Cristo! Pois as diferentes tarefas na igreja devem ser partilhadas por todos os membros do Corpo de Cristo, resgatados que foram das trevas para a luz, para exercerem os dons e aptidões que o Senhor lhes concedeu. 
Para refletir:
  1. Você considera que o alerta do artigo 4º da Declaração de Barmen (“entre vós não será assim”) ainda é atual?
  2. De que forma você pode servir a Deus e ao próximo a partir da compreensão do sacerdócio geral de todos os crentes?
  3. Com que espírito aqueles que estão em função de liderança no Corpo de Cristo deveriam desempenhar suas funções?

P. Sigolf Greuel – Florianópolis, SC


Editorial: O Boletim Virtual  Luteranos em Movimento é organizado por um grupo de ministros da IECLB e tem por objetivo a reflexão e a Formação Cristã Continuada para dentro da igreja de Jesus.
A edição é quinzenal e pode ser usado tanto para a reflexão pessoal como em grupos de estudo.
É livre para distribuição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário