18 de set. de 2013

Edição 22 - Temam a Deus e honrem o rei - Confissão de Barmen: artigo 5

17 de setembro de 2013

Temam a Deus e honrem o rei
O quinto artigo da Confissão de Barmen

“Temam a Deus e honrem o rei” - 1 Pedro 2.17
A Escritura nos diz que, segundo a providência divina, o estado tem a tarefa de zelar pelo direito e pela paz, ameaçando e recorrendo ao uso da força, no mundo ainda não remido, no qual também a igreja se encontra, na medida da compreensão e da capacidade humanas. A igreja reconhece com gratidão e respeito a Deus pelo bem desta sua incumbência. Ela aponta para o Reino de Deus, para o mandamento de Deus e a sua justiça e, com isto, para a responsabilidade de governantes e governados; ela confia e obedece movida pela palavra pela qual Deus sustenta todas as coisas.
Condenamos a falsa doutrina de que, além desta incumbência específica, o Estado possa pretender ser a ordem única e total da vida humana, assumindo também a incumbência da igreja. Condenamos a falsa doutrina de que a igreja, indo além de sua incumbência específica, possa assumir características, tarefas e dignidade do estado, tornando-se ela própria órgão do estado.
         Para melhor entender o enunciado acima, precisamos deixar claro, o que é o ESTADO. O Estado, como tal, é necessário para a boa ordem na sociedade. Os autores desta Declaração Teológica não questionam a sua existência. Deixam claro, no entanto, que o Estado não é uma grandeza em si mesmo. Ele é composto de Governo (autoridades constituídas) e a Nação (os governados). Sempre que o Governo de um Estado se arroga o direito de ser dono da Nação, ele ultrapassa a sua incumbência específica, que é promover a paz social e a segurança da Nação (zelar pelo direito e pela paz). Portanto, o Governo sempre está em função da Nação e nunca o contrário.
         De outra parte, a Igreja como instituição e como povo de Deus possui uma dupla incumbência:
1. Colaborar com as autoridades legitimamente constituídas na promoção do bem estar e da paz social. Para tanto ela pode livremente assumir, ao lado de sua missão religiosa, tarefas sociais, filantrópicas e educacionais em parceria (ou não) com o governo. A Igreja, a rigor, deve formar o caráter justo e pacífico dos cidadãos que o país necessita, pois toda pessoa cristã é portadora de uma dupla cidadania: é cidadã de seu país e cidadã do Reino de Deus.
2. A Igreja possui ainda uma segunda função: sua tarefa profética. Além da obediência às autoridades legitimamente constituídas, ela precisa de discernimento para “dar a César o que é de César; a Deus o que é de Deus”. Às palavras bíblicas: “temam a Deus e honrem ao rei” (1 Pedro 2.17),  devem ser vistas na totalidade deste versículo  que afirma: “Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem ao rei”. A política tem contornos maiores que “Deus e César”. À Nação cabe o que é devido à Nação: o direito de ser governada com justiça e paz e não abusada pelo poder governamental.
         O Estado não é divino nem é dono da Nação. Quando um Governo se arroga ser dono da Nação, ultrapassando seus limites, cabe à Igreja cumprir a sua função profética de alertar e denunciar estes desmandos. Ela cumprirá sua função profética, aliando-se às forças vivas da sociedade civil. Afinal, o sopro do Espírito do Senhor não está restrito aos corredores da religião organizada. Ele sopra onde quer e desperta pessoas onde quer para cumprir a sua missão. Onde a Igreja negligencia sua função profética ela torna-se refém do Estado, e deixa de ser Igreja cristã.
Para refletir:
         Tirando lições para o exercício da cidadania no Brasil.
1.   Onde está a voz profética da Igreja diante de uma estrutura de poder que privilegia três segmentos da sociedade: a) a alta cúpula do poder executivo, judiciário e legislativo; b) a classe dos ricos empresários da indústria, do comércio, da agricultura e dos serviços; c) as grandes corporações religiosas e filantrópicas. Estes usufruem  vantagens e isenções, mas quem paga a conta é o povo trabalhador extorquido em seus direitos.  A Constituição Federal de 1988 afirma que todos são iguais perante a lei. Então, por que a lei não é igual para todos?
2.   De que maneira a Igreja pode formar os cidadãos que a Nação necessita?
P. Arzemiro Hoffmann, Licenciatura Plena em Filosofia e Mestrado em Teologia.
Professor de Missiologia na FATEV em Curitiba.

3 de set. de 2013

Edição 21 - Não há hierarquia na igreja de Cristo - Confissão de Barmen: Artigo 4

03 de setembro de 2013

Não há hierarquia na igreja de Cristo
O quarto artigo da Confissão de Barmen

“Jesus chamou seus discípulos e lhes disse: Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo”. Mateus 20.25-26
Os diversos cargos na igreja não estabelecem o domínio de um sobre os outros, mas servem ao exercício do serviço ordenado a toda a comunidade.
Condenamos a falsa doutrina de que na igreja à margem deste serviço, pudessem existir ou serem impostos líderes investidos do direito de dominá-la.
O artigo 4º da Confissão de Barmen aponta para um dos ensinos principais do Novo Testamento e que se constituiu como um dos pilares da reforma luterana, a saber, o sacerdócio geral de todos os crentes. Voltando à Bíblia, Lutero questionou a divisão entre clero e leigos. Na Idade Média desenvolveu-se a idéia de que os sacerdotes, dotados de dignidade e direitos especiais, se distinguem dos demais cristãos. Assim, aos poucos, eles adquiriram poder sobre a vida dos demais cristãos estabelecendo uma hierarquia. Os 'leigos' tornaram-se sempre mais dependentes da ministração dos sacerdotes para receberem a graça de Deus e, em última análise, a própria salvação. Tanto a pregação do Evangelho, quanto a administração dos sacramentos e o governo da igreja passaram a ser direito exclusivo da classe sacerdotal.
Em contraposição com esta compreensão hierárquica milenar que dominava a igreja de Cristo, Lutero entendeu que os ministros não são uma classe privilegiada em relação aos demais membros do Corpo de Cristo.  Todo cristão é um sacerdote (1 Pedro 2.9 e Apocalipse 1.6),  o que lhe confere a mesma dignidade. 
O resgate dessa verdade bíblica por parte do reformador produziu uma “verdadeira revolução” na igreja de Cristo. Os ofícios sacerdotais de anunciar a palavra e de interceder diante de Deus passaram a ser de direito comum de todos os cristãos, e não a prerrogativa especial de uma casta seleta dos ordenados.  O rito da ordenação não promove ninguém a um patamar superior de cristianismo. Ele não habilita a exercer poder sobre o povo de Deus, mas comissiona um irmão mediante a oração, a leitura das Escrituras e a imposição de mãos, para servir à congregação e não a si mesmo. Por isso, quem é eleito para uma função de direção seja numa comunidade local, seja a nível regional ou nacional da igreja, precisa entender que foi chamado para servir. Este princípio do sacerdócio de todos os crentes libertou os seguidores de Jesus do temor e da dependência do clero.
Com isso, tanto os ministros ordenados como os presbíteros eleitos estão desautorizados a exercerem suas funções como dominadores ou chefes do rebanho de Deus (1 Pedro 5.1-3). Exercer seu ministério deste modo representa um retorno ao sacerdotalismo medieval contra o qual Lutero e os demais reformadores se insurgiram. Pois o cabeça da igreja é Cristo, ninguém mais.  Quem, portanto, se apropria da liderança, contradiz o ensino das Escrituras e ofusca o senhorio de Cristo! Pois as diferentes tarefas na igreja devem ser partilhadas por todos os membros do Corpo de Cristo, resgatados que foram das trevas para a luz, para exercerem os dons e aptidões que o Senhor lhes concedeu. 
Para refletir:
  1. Você considera que o alerta do artigo 4º da Declaração de Barmen (“entre vós não será assim”) ainda é atual?
  2. De que forma você pode servir a Deus e ao próximo a partir da compreensão do sacerdócio geral de todos os crentes?
  3. Com que espírito aqueles que estão em função de liderança no Corpo de Cristo deveriam desempenhar suas funções?

P. Sigolf Greuel – Florianópolis, SC


Editorial: O Boletim Virtual  Luteranos em Movimento é organizado por um grupo de ministros da IECLB e tem por objetivo a reflexão e a Formação Cristã Continuada para dentro da igreja de Jesus.
A edição é quinzenal e pode ser usado tanto para a reflexão pessoal como em grupos de estudo.
É livre para distribuição.