17
de setembro de 2013
Temam
a Deus e honrem o rei
O
quinto artigo da Confissão de Barmen
“Temam a Deus e
honrem o rei” - 1 Pedro 2.17
A Escritura nos
diz que, segundo a providência divina, o estado tem a tarefa de zelar pelo
direito e pela paz, ameaçando e recorrendo ao uso da força, no mundo ainda não
remido, no qual também a igreja se encontra, na medida da compreensão e da
capacidade humanas. A igreja reconhece com gratidão e respeito a Deus pelo bem
desta sua incumbência. Ela aponta para o Reino de Deus, para o mandamento de
Deus e a sua justiça e, com isto, para a responsabilidade de governantes e
governados; ela confia e obedece movida pela palavra pela qual Deus sustenta
todas as coisas.
Condenamos a
falsa doutrina de que, além desta incumbência específica, o Estado possa
pretender ser a ordem única e total da vida humana, assumindo também a
incumbência da igreja. Condenamos a falsa doutrina de que a igreja, indo além
de sua incumbência específica, possa assumir características, tarefas e dignidade
do estado, tornando-se ela própria órgão do estado.
Para melhor
entender o enunciado acima, precisamos deixar claro, o que é o ESTADO. O Estado,
como tal, é necessário para a boa ordem na sociedade. Os autores desta
Declaração Teológica não questionam a sua existência. Deixam claro, no entanto,
que o Estado não é uma grandeza em si mesmo. Ele é composto de Governo (autoridades
constituídas) e a Nação (os governados). Sempre que o Governo de um Estado se
arroga o direito de ser dono da Nação, ele ultrapassa a sua incumbência
específica, que é promover a paz social e a segurança da Nação (zelar pelo direito e pela paz).
Portanto, o Governo sempre está em função da Nação e nunca o contrário.
De outra parte, a
Igreja como instituição e como povo de Deus possui uma dupla incumbência:
1. Colaborar com as
autoridades legitimamente constituídas na promoção do bem estar e da paz
social. Para tanto ela pode livremente assumir, ao lado de sua missão
religiosa, tarefas sociais, filantrópicas e educacionais em parceria (ou não)
com o governo. A Igreja, a rigor, deve formar o caráter justo e pacífico dos
cidadãos que o país necessita, pois toda pessoa cristã é portadora de uma dupla
cidadania: é cidadã de seu país e cidadã do Reino de Deus.
2. A Igreja possui
ainda uma segunda função: sua tarefa profética. Além da obediência às
autoridades legitimamente constituídas, ela precisa de discernimento para “dar
a César o que é de César; a Deus o que é de Deus”. Às palavras bíblicas: “temam a Deus e honrem ao rei” (1 Pedro 2.17), devem ser vistas na totalidade deste
versículo que afirma: “Tratem a todos com o devido respeito: amem
os irmãos, temam a Deus e honrem ao rei”. A política tem contornos maiores
que “Deus e César”. À Nação cabe o que é devido à Nação: o direito de ser
governada com justiça e paz e não abusada pelo poder governamental.
O Estado não é
divino nem é dono da Nação. Quando um Governo se arroga ser dono da Nação,
ultrapassando seus limites, cabe à Igreja cumprir a sua função profética de alertar
e denunciar estes desmandos. Ela cumprirá sua função profética, aliando-se às
forças vivas da sociedade civil. Afinal, o sopro do Espírito do Senhor não está
restrito aos corredores da religião organizada. Ele sopra onde quer e desperta
pessoas onde quer para cumprir a sua missão. Onde a Igreja negligencia sua
função profética ela torna-se refém do Estado, e deixa de ser Igreja cristã.
Para refletir:
Tirando lições
para o exercício da cidadania no Brasil.
1. Onde está a voz
profética da Igreja diante de uma estrutura de poder que privilegia três
segmentos da sociedade: a) a alta cúpula do poder executivo, judiciário e
legislativo; b) a classe dos ricos empresários da indústria, do comércio, da
agricultura e dos serviços; c) as grandes corporações religiosas e filantrópicas.
Estes usufruem vantagens e isenções, mas
quem paga a conta é o povo trabalhador extorquido em seus direitos. A Constituição Federal de 1988 afirma que
todos são iguais perante a lei. Então, por que a lei não é igual para todos?
2. De que maneira a
Igreja pode formar os cidadãos que a Nação necessita?
P. Arzemiro Hoffmann, Licenciatura Plena em Filosofia e Mestrado
em Teologia.
Professor de Missiologia na FATEV em Curitiba.