23 de abr. de 2013

Edição 12 - Os cristãos de Beréia – Os cristãos da Noruega


Editorial: O Boletim Virtual  Luteranos em Movimento é organizado por um grupo de ministros da IECLB e tem por objetivo a reflexão e a Formação Cristã Continuada para dentro da igreja de Jesus.
A edição é quinzenal e pode ser usado tanto para a reflexão pessoal como em grupos de estudo.
É livre para distribuição e o conteúdo de edições anteriores pode ser acessado no blog: http://luteranos-em-movimento.blogspot.com.br/

Edição 12
23 de abril de 2013                
Os cristãos de Beréia – Os cristãos da Noruega

Dias atrás li uma reportagem que trazia a seguinte manchete – “Primeira pastora lésbica da Noruega renuncia”[1]. A razão para a renúncia, segundo a reportagem, seria uma forma de protesto da pastora que no ano de 1997 casou-se com uma mulher.
A pastora norueguesa se candidatou a diferentes campos de atividades ministeriais da igreja em seu país, porém, pelo fato de conviver com uma pessoa do mesmo sexo, sua candidatura não foi aceita. Tal dificuldade motivou o pedido de anulação da sua ordenação: "Ficou insustentável para mim representar uma Igreja que ainda pratica a exclusão", declarou Hilde Raastad na edição do jornal norueguês Aftenposten.

Apesar de a Igreja Luterana na Noruega autorizar a ordenação de pastores/as homossexuais, esse exemplo mostra que há congregações convencidas de que a decisão da igreja não está em conformidade com os ensinamentos das Sagradas Escrituras e demonstram clara resistência.

Esse episódio me fez lembrar uma passagem bíblica muito interessante que nos ajuda a nos posicionarmos frente aos temas que, hoje, representam um grande desafio a igreja. Em Atos 17.11 lemos: Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.

O cuidado dos bereanos ao avaliar a mensagem que receberam, confrontando-a com as Escrituras é elogiado pelo autor de Atos como uma atitude nobre. Lucas poderia ter classificado esse gesto como uma demonstração de desconfiança, incredulidade ou arrogância. Mas não, ele o ressalta como uma virtude dos bereanos, deixando claro o que recomenda a seus leitores de então e de hoje.

O esforço de Lutero, durante a Reforma, para tornar a Bíblia acessível e compreensível ao povo foi um ato libertador e deu ao povo cristão uma grande responsabilidade. Não era mais a Igreja que dizia no quê e como o povo deveria fundamentar a sua fé, nem mais determinava como a Bíblia deveria ser entendida. O reformador abriu para a comunidade a possibilidade de questionar e a avaliar o que é ensinado. Ou seja, ao conhecer o conteúdo da Palavra de Deus ninguém mais vive sob o jugo da interpretação tendenciosa dos que se julgam no direito de determinar o que é certo e errado.

Esse é o legado da Reforma para os nossos dias. As Sagradas Escrituras nos dão clara orientação do que corresponde ou não com a vontade de Deus. Mesmo sob a pressão da sociedade e de argumentos apresentados como politicamente corretos devemos manter-nos fiéis à Palavra de Deus.

Apesar de a mídia rotular os luteranos noruegueses que não aceitaram a pastora lésbica como homofóbicos, eu os considero nobres noruegueses “bereanos”. Eles seguem o exemplo de Lutero que corajosamente declarou diante do parlamento do império que o julgava: "A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus".
A tradição luterana nos desafia a agir como bons bereanos e avaliar tudo na perspectiva das Sagradas Escritura, rejeitando qualquer doutrina ou decisão o que não está em conformidade com ensino dela.

P. Joelson E. Martins – São José, SC


Contato:  P. Joel Schlemper

10 de abr. de 2013

Edição 11 - Será a igreja ainda relevante?


Edição 11
10 de abril de 2013                
Será a igreja ainda relevante?

Compartilho uma notícia veiculada na Folha de São Paulo no dia 30 de março, em plena véspera da Páscoa:

Sem fiéis, igreja alemã põe templos à venda!
Vende-se uma igreja por 135 mil euros (R$ 350 mil). Quem está à procura de uma capela pode conseguir uma por 20 mil euros (R$ 51 mil). Essas ofertas são da arquidiocese de Berlim, que tenta há semanas se desfazer de templos que estão órfãos de fiéis. Embora a Igreja Católica tenha sido liderada recentemente pelo papa alemão Bento XVI, 400 templos foram fechados, na Alemanha, em 2011, de acordo com a Conferência Episcopal do país. Com a Igreja Evangélica alemã não é diferente. Os evangélicos criaram um site para divulgar a oferta de 170 templos e 140 terrenos. De 1990 a 2010, 340 templos evangélicos foram fechados no país, segundo o diário espanhol "El País". O índice de alemães católicos e evangélicos caiu 10% e 17%, respectivamente, desde os anos 1990. Uma igreja evangélica localizada na cidade de Hamburgo, vendida no final do ano passado, por falta do comparecimento de fiéis, agora está nas mãos do islã. O negócio acabou com a convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos na cidade.

À distância, não temos condições para avaliar as razões do esvaziamento da vida comunitária no berço da Reforma. E nem pode ser nossa intenção estabelecer qualquer tipo de julgamento. Ainda assim, não deveríamos ignorar tais notícias, pois fatos como estes lançam sobre nós algo como um temor profético. Necessariamente havemos de nos perguntar: nossas comunidades em solo brasileiro correm um risco semelhante no futuro?

O risco imediato poderia ser que nos sintamos pressionados por este temor. Uma pressão que nos levaria a antecipar que também entre nós possa haver uma fuga lenta, mas progressiva dos fiéis de nossas comunidades. O que facilmente poderia nos levar a uma tentativa (nem sempre consciente) de adaptar nosso testemunho e nossa prática comunitária “ao gosto do cliente”, imaginando que assim faríamos de nossas comunidades e igrejas relevantes. Mas assim teríamos um Evangelho diluído, prostrado diante do estilo de vida e da cultura de cada geração. O ser humano seria alçado à condição de senhor, e Deus seria submetido à condição de criatura, a quem nada mais resta senão abençoar todas as decisões e atitudes do ser humano, por mais louco que isso possa parecer. Sob estes pressupostos e refém do espírito da época, a igreja nada mais seria do que ONG religiosa.

Não seria este um tiro a sair pela culatra?

Certamente a igreja não se tornará relevante simplesmente por se adequar ao estilo de vida de cada geração e por assumir um discurso politicamente correto. Fazendo isso, ela até poderia tornar-se relevante ao ser humano, mas certamente se tornaria irrelevante para o Senhor da Igreja. Não seria este um importante motivo para o esvaziamento da igreja?Uma Igreja adaptada à cultura de seu tempo e refém do espírito de sua época, na pretensão de atrair pessoas, acabará por não fazer mais diferença alguma em sua realidade e na vida das pessoas, que logo a deixarão, porque ela perdeu justamente aquilo que representa a sua relevância.

A relevância diante do Senhor é a condicionante para a relevância para as pessoas e para o mundo. Só assim ela fará diferença na vida das pessoas. Relevante ela será na medida em que conduzir pessoas a se submeter ao senhorio de Jesus Cristo e a libertar-se dos ditames da cultura vigente, quando estes estiverem em oposição à Palavra de Deus. Relevante ela será quando ensinar as pessoas a temer e a reverenciar a Deus acima de todas as coisas.  Relevante ela será na medida em que ela mesma se submeter à Palavra de Deus que encontramos na Bíblia e anunciar a justificação do pecador ao invés do pecado. Relevante ela será na medida em que tiver a coragem de anunciar neste mundo multi-religioso que Jesus Cristo é o único caminho e que não há salvação em nenhum outro nome.

P. Sigolf Greuel

2 de abr. de 2013

Edição 10 - COMO LUTERANOS INTERPRETAM A BÍBLIA


Editorial: O Boletim Virtual  Luteranos em Movimento é organizado por um grupo de ministros da IECLB e tem por objetivo a reflexão e a Formação Cristã Continuada para dentro da igreja de Jesus.
A edição é quinzenal e pode ser usado tanto para a reflexão pessoal como em grupos de estudo.
É livre para distribuição.

Edição 10
27 de março de 2013

COMO LUTERANOS INTERPRETAM A BÍBLIA

          A cultura pós-moderna que relativiza a verdade e a moral também relativiza a leitura e interpretação da Bíblia. Assim, pessoas diferentes fazem interpretações contraditórias usando o mesmo texto bíblico.Quando não se tem princípios claros que norteiam a interpretação bíblica, ela estará refém dos pressupostos do leitor. Os textos deixam de dizer o que dizem e passam a dizer o que queremos que digam. Ou seja, a interpretação é condicionada ao leitor.

Na linguagem teológica chamamos de hermenêutica essa tarefa de interpretação bíblica. Então, que hermenêutica usamos para a leitura da Bíblia? Qual seria mais confiável para não deixarmos a leitura e interpretação bíblica a mercê de nossos interesses? Como luteranos, devemos voltar a Lutero. Sua proposta de interpretação da Bíblia poderia ser esta ferramenta mais segura para não sujeitarmos a Bíblia aos interesses de cada geração.

Lutero afirmou enfaticamente que ler a Bíblia distinguindo lei e evangelho era a forma correta de interpretar as Escrituras. Como funciona isso? A lei é aquilo que mostra o nosso pecado, que aponta nossa perdição, nossa falência total diante de Deus. Por isso, a lei mata e condena. Contudo, ela é importantíssima, pois mostra a toda a pessoa a necessidade radical que possui diante de Deus. Nesse momento, entra o evangelho. Ele é a boa notícia de que Deus proveu perdão e salvação por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Embora condenável, o ser humano é amado por Deus, e este lhe proveu a quitação de toda culpa e pleno acolhimento em sua presença santa, antes inacessível. A tomada de consciência da condição de perdido diante de Deus e, respectivamente, do perdão imerecido, chamamos arrependimento. Assim, a lei conduz o homem a Cristo ao mostrar sua condição e sua necessidade. A graça de Deus o acolhe, perdoa, santifica, justifica, redime e, pela presença do Espírito Santo, oferece condições de viver uma nova vida.

Quando pregamos apenas a lei ou o juízo de Deus, caímos no legalismo. O legalismo mostra o pecado, mas não diz como sair dele. Ele coloca sobre os ombros das pessoas um peso que elas não podem carregar. Se pudessem, Cristo não precisaria ter morrido na cruz. Na igreja, gera dois tipos de pessoas: o primeiro é o hipócrita, aquele que não consegue viver a altura do padrão de Deus, mas finge que vive. É o tipo de pessoa que julga nos outros o que não consegue resolver em si mesmo. A espiritualidade vira uma questão estética, de aparência, dividindo o que se é no ambiente eclesiástico o que se é na vida privada. Gera pessoas endurecidas, julgadoras e arrogantes. O segundo grupo são daquelas pessoas sinceras, que percebem não poder atingir o padrão de Deus por meio de seus próprios esforços, e que saem da igreja por não suportar a pressão sobre si nem a hipocrisia dos outros. Acabam terminando feridas, frustradas e incapazes de serem “verdadeiros cristãos”.

Quando oferecemos o evangelho sem a lei, caímos no fosso do liberalismo. O teólogo Dietrich Bonhoeffer chamou isso de “graça barata”. Nesse contexto, não é mais o pecador que é justificado, mas o seu pecado. Não é a pessoa que é acolhida, mas o seu comportamento reprovável. O perdão vira um direito, não mais um privilégio. O sangue de Jesus é pisado e o Espírito da graça, ultrajado. É justificação da irreverência e do cinismo. É a forma mais perversa de maquiar o mal.
        
Assim, para não estarmos sujeitos aos ventos da contemporaneidade, somos convidados a limpar nossos óculos das interpretações próprias e buscar uma forma segura, e por que não dizer, mais luterana, de estudar um texto bíblico e dele tirar conclusões e aplicações.
P. Daniel Schorn – Orleans - SC


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