4 de dez. de 2014

A reconciliação passa pelo perdão

Francisco é dono de uma empresa. Ele convida um amigo de confiança, o Wilson, para ajudá-lo. Francisco assume a responsabilidade pela produção, e Wilson pelas compras e vendas. Com o passar do tempo, sem que Francisco fique sabendo, Wilson começa a usar recursos da empresa em benefício próprio. Os desvios chegam a tal proporção que a empresa foi à falência. Com inúmeros credores fazendo pressão para receber seu dinheiro, Francisco acabou indo para a prisão. A família, a muito custo, foi se desfazendo de todos os bens, para que, juntamente com Francisco, pudessem recomeçar a vida. Haviam perdido a confortável casa, os filhos não puderam freqüentar boas escolas, muito menos a faculdade. Isso sem contar a dor da humilhação e da decepção. Feridas muito profundas foram causadas pela irresponsabilidade do Wilson, o amigo de confiança!

Esta história é fictícia, mas não inverossímil. Ela levanta a pergunta: é possível perdoar um amigo que lesou não apenas a honra do outro, mas o conforto doméstico, a formação, a segurança e o futuro dos filhos do amigo? Lembremos que perdoar não é esquecer (isto seria amnésia); nem restituir completamente a confiança (isto seria insanidade); nem deixar de reconhecer o erro de outro (pois isto significaria cumplicidade). Num caso como esse, seria possível haver novamente paz entre estes amigos? É possível reconciliar? Sim, é possível. Ensinamos, a partir da sabedoria bíblica, que o ser humano reconciliado com Deus também busca a reconciliação com o próximo. Vejamos como isto acontece.

A palavra reconciliação significa o restabelecimento de acordo, ou paz, entre dois indivíduos quem viviam numa relação de hostilidade, inimizade. A Bíblia relata que houve uma ruptura entre Deus e a humanidade no Jardim do Éden (Gênesis 3), quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus. Porém, a Bíblia afirma que Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (2Coríntios 5.18). A sabedoria bíblica, então, nos lembra que Deus deu o primeiro passo em direção ao ser humano a fim de que a rebeldia deste contra o próprio Deus fosse eliminada. Em Cristo, Deus nos reconciliou consigo mesmo. Agora temos paz com Deus (Romanos 5.1).

O perdão recebido de Deus tem conseqüências concretas nas relações com o próximo. A reconciliação com o próximo é fruto da reconciliação de Deus conosco. Foi isto que Jesus ensinou quando, no “Pai-nosso”, instruiu seus seguidores a pedirem: E perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos nossos devedores (Mateus 6.12). O perdão é a porta aberta por Deus para a reconciliação com o próximo.

Concluo lembrando um pequeno texto escrito por Mary Karen Read em seu diário, antes de ser assassinada por um atirador no dia 16 de abril de 2007, junto com mais 30 colegas, professores e funcionários de uma escola no estado da Virgínia/EUA: Quando feridas profundas são feitas contra nós, nunca nos curamos até que perdoamos. O perdão não muda o passado, mas o perdão amplia o futuro.

P. Joel Schlemper – São José/SC 
 joelschlemper@gmail.com

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