16 de dez. de 2014

“Do contemplar ao Servir: em busca do sentido do Natal”

Um milionário solitário resolve alugar uma família para o Natal. Preço do aluguel: U$ 250.000. Esse é o enredo do filme “Sobrevivendo ao Natal”. Por que ele fez isso? Para poder sentir-se acolhido na noite de Natal. Parece estranho, não é? Mas, a verdade é que essa comédia acaba revelando a solidão enfrentada por tantas pessoas na vida real. E isso se intensifica nessa época natalina, acabando por encobrir seu real significado. As pessoas se ocupam com faxinas e decorações, envolvem-se em correrias para lojas superlotadas e para supermercados com muitas filas, correm atrás de pisca-piscas, mas isso só contrasta com a vinda do Salvador, que chegou na simplicidade e na sujeira de uma estrebaria, na escuridão da noite.

Lucas nos conta (Lc 2.8-19) o que aconteceu logo depois do nascimento de Cristo. Um anjo visita alguns pastores que acampavam com suas ovelhas perto de Belém. No frio silencioso daquela madrugada, esse anjo anuncia o nascimento do Salvador, o Cristo (v. 11). Que interessante! Os primeiros a ouvir sobre o nascimento do Salvador foram pastores de ovelhas, considerados naquela época a classe mais desprezível da sociedade. Ao ouvirem a boa notícia dos anjos, eles em seguida deixam seus rebanhos e vão procurar Jesus, que ainda se encontrava na estrebaria, envolto em panos e deitado na manjedoura (v. 12, 15 e 16). Com certeza, encontrar o Salvador da humanidade foi comprovação visível das palavras do anjo. Dá até para imaginar os joelhos dobrados, o louvor, a adoração que tomaram conta daquele humilde local.

Mas a história não termina com esta cena. A manjedoura não era local de peregrinação. O texto nos conta que depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito do menino e todos os que ouviram o que os pastores diziam ficaram admirados (v. 17-18). O encontro com o Salvador levou os pastores ao encontro de outras pessoas. Olhar para o menino Jesus os levou a olhar para fora da estrebaria. A contemplação resultou em serviço, a fim de que outras pessoas também tomassem conhecimento do nascimento do Salvador.

No Natal celebramos a vinda de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a este mundo. Mais tarde, mediante sua morte e ressurreição, ele haveria de vencer a morte e o inferno a favor de todos os que nele cressem. Essa mensagem não pode ficar presa entre as quatro paredes de nossas igrejas. Pelo contrário, somos chamados a proclamar a mensagem do reino de Deus em nossas famílias, circulo de amizades, ambiente de trabalho, e assim por diante.

Quantos lares irão passar o Natal como se fosse outro dia qualquer? Quantas serão as pessoas carentes de acolhimento, de sentido para a vida? Quantos serão os lares em que o Natal é uma mera celebração cultural?

O verdadeiro Natal está em Cristo, que assumiu a maldição do pecado em nosso lugar. Assim afirma o apóstolo Paulo: Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (2 Co 5.21). Na manjedoura do pobre menino já se vislumbra a cruz, que é onde encontramos a reconciliação com Deus, com o próximo e com a criação. Este é o presente de Natal que o mundo precisa conhecer e receber.

Lutero anima os cristãos ao serviço: “Quando tens a Cristo como fundamento e bem maior da tua felicidade, segue outro ponto: que o tomes como exemplo e também te ofereças para servir ao teu próximo, assim como vês que ele se ofereceu por ti” (“O que procurar nos evangelhos”, de 1522).

Que seu Natal seja celebrado em família, em confraternização. E que, a partir do encontro com Cristo, sua vida se torne repleta de proclamação dessa boa nova e de serviço ao próximo. Afinal de contas, o preço que custou a obra salvífica de Cristo foi muito maior do que os U$ 250.000 pagos pelo personagem milionário para ter uma ilusão de acolhimento. O preço que Deus pagou foi o da vida do seu filho único, por amor de toda a humanidade.

Que Deus lhe abençoe neste Natal. Que você tenha um feliz Natal!

André Felipe Voge
São Bento do Sul andre-vogel@hotmail.com

4 de dez. de 2014

A reconciliação passa pelo perdão

Francisco é dono de uma empresa. Ele convida um amigo de confiança, o Wilson, para ajudá-lo. Francisco assume a responsabilidade pela produção, e Wilson pelas compras e vendas. Com o passar do tempo, sem que Francisco fique sabendo, Wilson começa a usar recursos da empresa em benefício próprio. Os desvios chegam a tal proporção que a empresa foi à falência. Com inúmeros credores fazendo pressão para receber seu dinheiro, Francisco acabou indo para a prisão. A família, a muito custo, foi se desfazendo de todos os bens, para que, juntamente com Francisco, pudessem recomeçar a vida. Haviam perdido a confortável casa, os filhos não puderam freqüentar boas escolas, muito menos a faculdade. Isso sem contar a dor da humilhação e da decepção. Feridas muito profundas foram causadas pela irresponsabilidade do Wilson, o amigo de confiança!

Esta história é fictícia, mas não inverossímil. Ela levanta a pergunta: é possível perdoar um amigo que lesou não apenas a honra do outro, mas o conforto doméstico, a formação, a segurança e o futuro dos filhos do amigo? Lembremos que perdoar não é esquecer (isto seria amnésia); nem restituir completamente a confiança (isto seria insanidade); nem deixar de reconhecer o erro de outro (pois isto significaria cumplicidade). Num caso como esse, seria possível haver novamente paz entre estes amigos? É possível reconciliar? Sim, é possível. Ensinamos, a partir da sabedoria bíblica, que o ser humano reconciliado com Deus também busca a reconciliação com o próximo. Vejamos como isto acontece.

A palavra reconciliação significa o restabelecimento de acordo, ou paz, entre dois indivíduos quem viviam numa relação de hostilidade, inimizade. A Bíblia relata que houve uma ruptura entre Deus e a humanidade no Jardim do Éden (Gênesis 3), quando Adão e Eva se rebelaram contra Deus. Porém, a Bíblia afirma que Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo (2Coríntios 5.18). A sabedoria bíblica, então, nos lembra que Deus deu o primeiro passo em direção ao ser humano a fim de que a rebeldia deste contra o próprio Deus fosse eliminada. Em Cristo, Deus nos reconciliou consigo mesmo. Agora temos paz com Deus (Romanos 5.1).

O perdão recebido de Deus tem conseqüências concretas nas relações com o próximo. A reconciliação com o próximo é fruto da reconciliação de Deus conosco. Foi isto que Jesus ensinou quando, no “Pai-nosso”, instruiu seus seguidores a pedirem: E perdoa as nossas dívidas assim como perdoamos nossos devedores (Mateus 6.12). O perdão é a porta aberta por Deus para a reconciliação com o próximo.

Concluo lembrando um pequeno texto escrito por Mary Karen Read em seu diário, antes de ser assassinada por um atirador no dia 16 de abril de 2007, junto com mais 30 colegas, professores e funcionários de uma escola no estado da Virgínia/EUA: Quando feridas profundas são feitas contra nós, nunca nos curamos até que perdoamos. O perdão não muda o passado, mas o perdão amplia o futuro.

P. Joel Schlemper – São José/SC 
 joelschlemper@gmail.com