PECADO
EXISTE? E DAÍ?
(Estudo sobre a Santa Ceia)
Nossa sociedade aboliu o pecado da sua linguagem,
enquanto que a mídia insiste em declarar os direitos individuais e o quanto
merecemos a “felicidade” neste mundo. Como então explicar tanta violência,
corrupção, falta de ética, etc? Não há limites para essa cultura de direitos?
Acreditamos, sinceramente, que merecemos felicidade a qualquer preço? A
felicidade é comprável? A Bíblia apresenta um espaço de acolhimento para quem
reconhece o mal (que chama de pecado) com suas consequências e a solução para
uma infelicidade crescente. Trata-se da Ceia do Senhor.
Em 1
Coríntios 11.27-28 Paulo afirma que participa dignamente nessa Ceia quem
reconhece seus pecados e tem disposição de abandoná-los. Adverte que a pessoa
que não admite ser pecadora ou que não se arrepende dos seus pecados encara a
Ceia do Senhor com falsidade, como Judas Iscariotes. Quando participamos
honestamente da Ceia, afirmamos que precisamos de Jesus por causa da sujeira do
pecado, e não por estarmos limpos pelo nosso esforço de arrependimento. Portanto,
isso é dádiva do Senhor e não obra humana.
Assim,
a confissão dos nossos pecados e o arrependimento, como a fé em Jesus Cristo,
são fundamentais no processo de nos tornarmos discípulos dele (Mc 1.15). Porém,
com isso não deixamos de ser pecadores. Antes de crer em Jesus, éramos
pecadores perdidos. Agora somos
pecadores acolhidos/salvos. Como tais, cremos na Palavra de Deus que lemos em 1
João 1.9.
O
apóstolo Paulo faz uma comparação da Ceia (1 Co 10.3s) com o maná no deserto,
descrito no Antigo Testamento. Já
naquela vez, Deus era o doador e a dádiva ao mesmo tempo. Por isso Jesus chama
a si próprio de o verdadeiro maná, o pão da vida, o pão do céu. O que aqueles tinham
em figura e sombra, nós temos como realidade: o grande alimento da alma, o
corpo e o sangue de Cristo. A Ceia
do Senhor também é chamada de Eucaristia, Sacramento do Altar ou Santa Ceia. Em
João 6.56 lemos as seguintes palavras de Jesus: “Todo aquele que come a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Assim, na Ceia
expressamos a nossa união com Cristo. É a fé no sacrifício de Jesus por nós que
recebe esse presente dado por Deus.
Para
o reformador Lutero, a Ceia consiste na remissão e perdão dos pecados de
quem aceita o sacrifício de Jesus. Nela
Deus nos dá salvação. Assim como no batismo o poder não está na água, na Ceia
não está no comer o pão e beber o vinho ou simplesmente suco de uva, mas sim
nas palavras: "Dado e derramado em favor de vocês para remissão dos
pecados". Calvino declara que a Ceia foi instituída pelo Senhor para com
ela firmar e selar em nossas consciências as promessas contidas no Evangelho.
Ele nos faz participantes do seu corpo e de seu sangue para reconhecermos sua
grande bondade, louvá-lo e magnificá-lo e ainda, nos exorta a toda santidade e
inocência, porque somos feitos membros de Jesus Cristo.
Pela
concepção de confissão luterana: na Ceia recebe-se Cristo por inteiro, com
todos os benefícios do seu sacrifício. Ao fazê-lo, torna presente a eficácia
deste sacrifício, desde a criação até o retorno dele. A ceia representa a
comunhão com Cristo (1 Co 10.16) e fomenta a comunhão entre os irmãos. A
participação na Ceia nos coloca num compromisso solidário na defesa da vida
criada por Deus. Jesus instituiu a Ceia dando graças. Portanto, ao celebrá-la também devemos
manifestar alegria, gratidão e louvor pelo perdão e a remissão dos pecados.
Através da Ceia celebramos e nos apropriamos da obra do Senhor. Se somos perdoados
e reconciliados com Deus, também somos estimulados e exortados a agir de forma
igual com o nosso próximo. Enfim, na Ceia vivenciamos uma mistura de
sentimentos: tristeza pelos nossos pecados, disposição para a mudança, gratidão
pelo perdão, celebração e alegria pela misericórdia de Deus em Jesus, comunhão
com Cristo, perdão e compromisso com o próximo e expectativa pelo banquete
celestial.