O texto à seguir é uma manifestação assinada por 150 ministros ordenados da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e encaminhada à Presidência daquela denominação cristã mediante repercussão causada pelas declarações de um Pastor Sinodal que é também segundo vice-presidente da igreja.
Como lideranças cristãs, nós, ministros e ministras da IECLB, reconhecemos a pluralidade social e a diversidade, inclusive em questões políticas, do povo de Deus. Mediante este simples fato repudiamos a instrumentalização da igreja para fins político-partidários, seja de qual viés político-ideológico for. O fazemos pelos danos que estes podem causar à igreja como corpo. Falar em nome deste corpo exige seriedade e deve ser resultado de uma profunda reflexão anterior. Por essa razão, não podemos concordar em que uma pessoa, ordenada ao ministério eclesiástico ou não, mesmo inserida no Sacerdócio de Cristo, faça uso da palavra como representante deste corpo.
Infelizmente, foi o que aconteceu com a entrevista posterior a visita feita ao ex-presidente Lula pelo P. Inácio Lemke, P. Sinodal do Sínodo Norte Catarinense e 2º P. Vice-Presidente da IECLB. O problema não foi a visita em si, mas as entrevistas e as falas do referido pastor, que, ao invés de levar uma palavra de esperança a partir do Evangelho de Jesus Cristo, sai “cheio de esperança” pelo que ouviu do ex-presidente. É claro que seria possível interpretar isso de diversas formas. No entanto, justamente pelo amplo leque de interpretações, causa dano ao corpo da igreja. A tarefa “profética”, tão presente nas Escrituras e sempre necessária deve apontar e estar sob senhorio de Jesus Cristo, o Senhor da Igreja, de forma que não gere mácula a presença de Cristo enquanto igreja/corpo.
Por essa razão, endossamos aquilo que está no Estatuto do Ministério com Ordenação (EMO) em seu intuito de reger nossas ações dentro do contexto de comunidades, paróquias e sínodos. Sendo assim, o claro e confessado partidarismo e militância política, agravado pela promessa pública de levar a causa política para dentro do corpo da igreja, agride frontalmente ao EMO em seu Art. 44: Em questões político-partidárias, a ministra ou o ministro atuará com o devido resguardo do seu ministério e do seu CAM, sem, entretanto, renegar a tarefa de promover o bem-estar do ser humano à luz do Evangelho. Parágrafo único. As preferências partidárias pessoais da ministra e do ministro não deverão prejudicar o bom relacionamento dos membros da Comunidade, entre si, e a sua convivência com o CAM”. Também o Art. 3º, p. 2º reza: “ ... III - assuma o compromisso expresso de exercer o ministério, mediante: a) observação da base confessional da IECLB, conforme estabelecida em sua Constituição; b) cumprimento dos deveres inerentes ao exercício do respectivo ministério específico, estabelecidos por este estatuto; c) sujeição às normas do documento Doutrina e Ordem da IECLB; d) observação e cumprimento dos demais documentos, que estabelecem a ordem da e na IECLB; ...”; E, de acordo com o que reza o Art 9º do OJD, o P. Inácio Lemke comete as seguintes infrações: “... II - de natureza grave: a) a conduta incompatível com os princípios do evangelho, com a ética cristã, ou com a função que exerce; b) a ofensa à confessionalidade; c) causar divisão e rupturas no seio de comunidades, paróquias, sínodos ou da própria Igreja;
Além disso, nós, enquanto ministras e ministros, estamos sendo constantemente questionados por causa de tal atitude do colega pastor. Há membros ameaçando desligamento das comunidades, outros informando que retirarão suas contribuições, e pessoas de fora do quadro de membros caluniando as nossas comunidades e paróquias. As bases das comunidades estão sentindo o resultado direto que esta atitude irresponsável causou. Como ser uma igreja missionária se uma liderança escolhida e que ocupa o cargo de Pastor Sinodal e 2º Vice-Presidente da IECLB consegue construir uma imagem tão negativa ao assumir uma posição político-partidária militante?
Diante disso, como ministros e ministras da IECLB conclamamos uma resposta da Presidência da Igreja, clara e oficial, para termos respaldo nos questionamentos de membros das Comunidades, mas também da sociedade como um todo.
Ministras e Ministros da IECLB.